A vontade de ser feliz

"Todos os homens procuram ser felizes. Isso não têm exceção, por mais diferentes que sejam os meios empregados. Todos tendem para esse fim. O que faz com que uns vão para a guerra e que outros não vão é esse mesmo desejo que está em ambos. A vontade nunca faz o menor movimento que não seja em direção desse objetivo. É o motivo de todas as ações de todos os homens, até daqueles que vão se enforcar" Blaise Pascal (1623-1662).

A antropologia de Pascal é muito interessante. De acordo com o pensador cristão de Port-Royal, todos os homens são impulsionados pela vontade de ser feliz e isso realmente parece estar de acordo com o impulso que encontramos dentro de nós. Contudo, essa constatação em Pascal não é tão simples. Fica claro, no decorrer do desenvolvimento da antropologia pascaliana, que a vontade humana que se move em busca da felicidade está viciada, subjugada pela queda, e principalmente cativa a concupiscência da carne que busca satisfação plena nos objetos finitos; este é o estado miserável do homem em Adão.

De acordo com este pressuposto inicial, Pascal então desenvolve no fragmento L. 148 de seus “Pensamentos” a idéia de que este homem distante da fé em Deus tem sua vontade inteira orientada pelo desejo de “ser feliz”, ou se preferir, o desejo de satisfazer todas suas vontades - que obviamente isso implicaria em felicidade caso isso fosse possível - e que, portanto, a vontade não pode ser neutra. Isso significa dizer que na tomada de decisões da vontade há uma natureza anterior e fundamental, cheia de inclinações aos objetos, que regula a vontade.

A pergunta é: a vontade que não subsiste por si mesma, mas que é movida por algo anterior a ela, é movida por qual desejo? A resposta é clara, o desejo de ser feliz. Portanto, na concepção pascaliana, alguém usaria drogas porque quer “transcender” a si mesmo, fugir da dor, esquecer de si, encontrar prazer e caso isso fosse algo derivado do Bem Supremo, acarretaria em felicidade parcial. Outros vão surfar, porque surfar é um esporte maravilhoso, saudável, dá um prazer indescritível deslizar sobre as ondas, e, portanto, isso traz felicidade. Outros vão comer chocolate porque obviamente tem vontade de comer, mas comer cocholate, além de aumentar a produção de serotonina (substancia química cerebral ligado ao prazer) é muito gostoso e, portanto sou feliz comendo chocolate.

Em outro lugar (L. 362), ele diz que “a vontade nunca se satisfará, mesmo que tivesse o poder para realizar tudo”. Logo, para Pascal, a vontade humana sempre se move (pois não pode ficar inerte, isso seria o tédio absoluto) em busca do preenchimento do “vazio infinito” que há na alma (resultado da queda). O objetivo do ser humano, mesmo que ele nunca tenha refletido sobre isso, é erradicar a causa de sua infelicidade (vazio infinito), colocando alguma coisa onde há o vazio, na busca de aprazimento, satisfação e felicidade. É exatamente isso que para Pascal constitui o motivo de sua desgraça e infelicidade, uma vez que a única solução para o homem é renunciar a vontade que está aprisionada aos objetos finitos para convertê-la à um objeto infinito (Deus).

Penso que Pascal responderia assim, caso eu não esteja enganado ou sendo muito pretensioso. Em suma, vontade é sempre “vontade de”, ou “vontade de alguma coisa”; vontade pela vontade em si mesma não faz parte da natureza humana, que é dotada de inclinações aos objetos em busca de aprazimento.

Por dlgrubba.blogspot.com
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